Ascensão do Senhor
Evangelho: Mc 16,15-20
“Estes dias,
diletíssimos, que transcorreram entre a Ressurreição do Senhor e a sua
Ascensão não se passaram na ociosidade; mas, neles foram confirmados
grandes sacramentos e revelados grandes mistérios. Nestes dia foi
abolido o medo da fúria da morte, e foi declarada a imortalidade não
somente da alma, mas também do corpo.” (São Leão Magno, Sermão I, Sobre a Ascensão)
Como nos ensina São
Leão Magno estes dias entre a Ressurreição e a Ascensão do Senhor não se
passaram na ociosidade. De fato, temos visto no segundo e no terceiro
domingos do Tempo Pascal as aparições do Ressuscitado. Nessas aparições
que Cristo faz aos seus discípulos o grande dom que Ele oferece é a paz.
Ele é a nossa paz. Do que era dividido Ele fez uma unidade. Ele formou
em si o homem novo, quebrando o muro de inimizade que havíamos levantado
entre nós e Deus e entre nós e os irmãos pelo pecado.
O Ressuscitado
aparece aos discípulos nesses dias que antecedem a sua Ascensão para
confirmar “grandes sacramentos” e revelar “grandes mistérios”.
Celebramos hoje um grande mistério, o mistério da Ascensão do Senhor. O
Senhor que se fez obediente até a morte e morte de cruz, como nos fala
São Paulo na carta aos Filipenses 2, 6-11, é ressuscitado pelo Pai e
elevado às alturas do céu. O Evangelho de hoje torna presente em nossa
assembléia cúltica este divino mistério quando nos revela que Cristo,
após ter dado instruções precisas aos seus apóstolos a fim de que esses
continuassem sua missão, foi “levado para o céu” e “sentou-se à direita de Deus”.
E os discípulos ficaram a contemplar o Senhor que subia, como que
antevendo também o dia em que seriam por Cristo elevados às alturas
celestiais.
Todavia, os misteriosos “homens vestidos de branco” dizem aos apóstolos como hoje nos fala a primeira leitura: “Homens da Galiléia, porque ficais aí olhando? Estes Jesus que foi levado para o céu virá do mesmo modo como foi levado”. O
Cristo subiu aos céus, Ele voltará, mas Ele está continuamente
presente. Sabemos que Ele subiu aos céus e é precisamente este o
mistério que hoje celebramos. Sabemos, também, que, do mesmo modo como
Ele foi, Ele também voltará. Mas, não podemos negar que Ele está
continuamente presente no meio de nós, de forma misteriosa, na Palavra,
nos Sinais Sacramentais, no Corpo Místico dos batizados, nos que exercem
o Sagrado Mistério, na voz da Igreja que ora e salmodia.
Como bem nos ensinou
São Leão Magno no início desta homilia, Ele nos confirmou grandes
sacramentos e nos revelou grandes mistérios. Ele que foi para o Pai e
que voltará está continuamente presente no meio de nós, pela força, pela
presença dinâmica do Divino Paráclito. É o Santo Espírito, o Senhor e
Doador de Vida, a Memória Viva de Deus, que torna o próprio Cristo e os
Mistérios de sua vida presentes para nós nos sacramentos da Igreja. Como
nos ensina Santo Agostinho, Ele “subiu sem se afastar de nós” e “continua sofrendo na terra através das tribulações que nós experimentamos como seus membros”.
Irmãos, este mistério
que celebramos é fonte de esperança para nós! Assim como celebrar a
Ressurreição significa celebrar a certeza de que também ressuscitaremos
com Ele, celebrar a Ascensão do Senhor é antever, é antegozar, é já
usufruir no mistério da liturgia aquele dia glorioso em que nós também
seremos assumidos na própria vida de Deus. Essa experiência era tão
forte que São Paulo na Carta as Efésios a via como uma realidade já
acontecida: “Mas Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor
com que nos amou, quando estávamos mortos em nossos delitos, nos
vivificou juntamente com Cristo – pela graça fostes salvos! – e com ele
nos ressuscitou e nos fez assentar nos céus, em Cristo Jesus…” (cf. Ef 2,4-7)
A fé de Paulo
alimentada pela esperança que nele é suscitada em virtude da
Ressurreição e da Ascensão de Cristo é tão grande que Ele fala desse
mistério como já acontecido na nossa vida. De fato, em Cristo, já nos é
certa a ressurreição, n’Ele cada homem e cada mulher já está assentado
no céu. A promessa feita aos discípulos é feita também a nós: na casa do
Pai há muitas moradas e para onde Ele foi Ele também nos levará. Somos o
seu Corpo; o destino do Corpo é acompanhar a glória da Cabeça. Como
nossa Cabeça, Cristo nos precede nas mansões celestiais; Ele é o
primogênito dos mortos. Mas nós, como corpo seu que somos, o seguiremos,
e onde Ele estiver também nós estaremos. Mais uma vez Santo Agostinho
nos ensina, dizendo: “E assim como Ele subiu sem se afastar de nós,
também nós subimos com ele, embora não se tenha ainda realizado em nosso
corpo o que nos está prometido.” Seremos, também nós, arrebatados para as alturas celestiais.
Não arde o nosso coração diante dessa certeza? Todas as tribulações
desse mundo cessarão quando se realizar definitivamente em nós a sua
promessa. Temos às vezes medo de pensar nessas coisas eternas e sublimes
porque achamos que elas nos afastam da realidade. Mas, qual é a
realidade do cristão? Não é a vida nesse mundo! A realidade do cristão é
Cristo! O cristão vive nesse mundo, mas sente saudade do céu! Lá é
nosso lugar. O nosso coração está inquieto, pois o lugar do Corpo é
junto com sua Cabeça. Este mundo só pode ser realmente transformado por
quem vive assim. Quando temos o olhar no céu transformamos também o
mundo, para que Ele se torne um pouco mais parecido com o céu! Mas,
quando temos o olhar voltado para esse mundo e nossas esperanças estão
fundadas nesse mundo, vivemos ainda centrados em nós mesmos e aí está a
raiz de todo pecado.
Que grande esperança! Olhemos para o que nos diz a segunda leitura de
hoje. Que o Pai nos dê um espírito de sabedoria; que o Pai abra o nosso
coração à sua luz, que possamos conhecer à qual esperança somos
chamados; qual riqueza de glória é a nossa herança; e que imenso poder
ele exerceu em nosso favor. O Pai está nos dando nesta liturgia o
Espírito de Sabedoria, o seu Espírito Santo. O Pai, por meio do seu
Espírito, nos abre o coração à sua luz, que é o próprio Cristo, o qual
se apresentou a nós como “luz do mundo” e do qual dizemos “Luz da Luz”.
Cristo, através da sua Páscoa e da sua Ascensão, que não são dois, mas
um único mistério, nos revela à qual esperança somos chamados e qual é a
nossa herança. A nossa esperança está na vida futura. A nossa herança
está no céu. O Pai também nos ressuscitará como fez com Cristo e nos
fará sentar no céu, esse é o grande poder que Ele exerceu em nosso
favor. Nós, que somos por natureza, mortais e corruptíveis, sujeitos a
uma vida que corre para a morte, que fenece, que murcha, fomos elevados
com Cristo à glória da ressurreição, a uma vida imortal.
Nos sentaremos no céu com Ele: é essa a razão da nossa esperança, é
essa a nossa herança. Quando diante de tantas razões para nos
desesperarmos nos perguntarem porque ainda esperamos em Deus, devemos
dizer: Porque no último dia Ele virá e me chamará do meio dos mortos
pelo nome e fará sentar no céu com Ele. Quando parecer que não temos
mais nada nesse mundo, que perdemos tudo, devemos nos lembrar que temos
uma herança incorruptível, um tesouro que ninguém pode roubar de nós: a
glória para a qual fomos feitos. Aproveitemos o mistério do culto que
celebramos e experimentemos a alegria de antever e antegozar o que nos
espera junto com o Senhor!
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